As fotos foram enviadas por Alfredo Prandato Jr. via intermédio do Lindeberg Menezes Jr. A narrativa gira em torno do bólido de corrida com o seu Pai, mas vêm também duas fotos, uma com um Chevrolet 1941 e outra com um Chevrolet 1940 (última). Assim, junto ao outro post também gerado pelo Prandato (Praia Grande ) formamos uma tríade, com os Chevy 39-40-41. Essas fotos -inéditas!- foram gentilmente restauradas pelo fotógrafo Paulo Sallorenzo.
Prandato, as suas fotos são belíssimas, a história é ótima! Meus parabéns e muito obrigado por essa oportunidade.
Fica aqui a nossa homenagem ao seu Pai, que dedicou muito da sua vida aos automóveis que hoje cultuamos.
Mais abaixo, a transcrição da história contada pelo Prandato:
"...homenagem a meu pai que faleceu em 1987 aos 75 anos e que tenho certeza ficara de onde estiver, muito contente.
Fica aqui a nossa homenagem ao seu Pai, que dedicou muito da sua vida aos automóveis que hoje cultuamos.
Mais abaixo, a transcrição da história contada pelo Prandato:
No inicio de 1949, (eu tinha alguns meses de vida) meus pais moravam no bairro de Vila Prudente. Lá também moravam dois irmãos portugueses que tinham muito dinheiro e que na época eram verdadeiros play-boys. Gostavam de velocidade e por isso importaram da Itália um carros de corrida, na época o equivalente hoje a um formula 1. Eu só não me lembro agora se era um Masserati ou um Alfa Romeo. O carro não era novo e quando chegou em São Paulo todo desmontado e em condições mecânicas bem precárias, meu pai mecânico e amigos dos irmãos portuguêses, foi contratado para fazer a restauração e montagem do veículo. Meu pai teve um trabalho danado para colocar o veículo em condições de corrida. O mais incrível da historia vem agora. Um dos irmãos se inscreveu para uma corrida que seria realizada no autódromo de Interlagos no mesmo ano de 1949. Nessa época a região onde foi construída essa pista era o verdadeiro fim do mundo. Para chegar até lá existia uma “auto-estrada” construída por iniciativa particular e é claro para usá-la era necessário pagar pedágio.
No dia da corrida onde iriam participar pilotos experientes e famosos, dentre eles segundo me contou meu pai, estava o nosso famoso corredor Chico Landi. Sabe o que aconteceu horas antes da largada da corrida, com o português que iria participar da prova com o carro que ele tinha importado e do qual meu pai restaurou? O morruga afinou, ficou com medo. Meu pai ficou inconformado, depois de tanto trabalho, ele não queria que todo esforço e dedicação fossem por água abaixo. Ele então com seus 37 anos e como bom mecânico e motorista que era, achou que poderia também ser piloto. Coragem ele tinha, só que deveria lembrar que era casado, tinha uma filha com 9 anos de idade e eu com poucos meses de idade. Ele trabalhava como mecânico, mas como empregado e dependia do emprego para sustentar a família. Adivinha o que aconteceu. Ele na última hora se inscreveu para correr, parece que foi com outro nome ou quem sabe lá como conseguiu. Só sei que ele alinhou para a partida.
Segundo ele me contou, depois de algumas voltas ele tomou uma fechada na curva do pinheirinho (temos que lembrar que o traçado de Interlagos era maior do que o de hoje e a pista com um asfalto muito precário, cheio de buracos e sem acostamento ou guard-rail), saiu da pista e capotou. Foi de ambulância para o Hospital das Clínicas onde foi constatado depois de um Raio X que ele tinha fraturado a clavícula. Foi então colocado um colete de gesso. E agora, como chegar em casa e encarar a “patroa”, ela de nada sabia. Ou melhor, só sabia que ele iria para Interlagos no dia da corrida trabalhar como mecânico do “morruga” . Como iria explicar que não poderia trabalhar por pelo menos 3 meses, isso mesmo, 3 meses. O dono da oficina mecânica não iria querer saber. Ou trabalhava ou não recebia. Eles nem registravam os empregados, então não teria como receber auxilio doença do então INSS, se é que isso existia naquela época.
Minha mãe que já costurava em casa para ajudar o sustento da família teve de trabalhar dobrado para pagar as contas no fim do mês, a sorte é que naquela época existia a famosa caderneta, popularmente chamada na época de “cardeneta” nos armazéns de Secos e Molhados, padarias e açougues. Era só comprar, o vendedor anotava tudo e o pagamento feito no dia combinado, tudo na base da confiança. Hoje isso seria impossível. No fim, ele pelo menos se sentiu realizado, viu o carro que ele restaurou correr em Interlagos e o mais importante, foi também um piloto de corridas mesmo que por poucos momentos é claro, mas que ele nunca se esqueceu durante toda a sua vida. Esse prazer eu nunca vou ter, o máximo que consegui foi dar uma volta de bicicleta no atual circuito e tendo de subir a ladeira que antecede a reta de chegada empurrando a “magrela”, de tão cansado que eu estava.
Na seqüência, as fotos todas tirada no Autódromo de Interlagos, hoje chamado José Carlos Pace:
1- Meu pai sentado no “bólido”.
2- Junto ao “bólido” os dois irmãos “morrugas” proprietários do veículo.
3- O carro cercado de curiosos acredito eu, momentos antes da largada.
4- Um dos irmãos junto ao seu carro de passeio.5- Meu pai do lado esquerdo e do outro um dos irmãos. "
"...homenagem a meu pai que faleceu em 1987 aos 75 anos e que tenho certeza ficara de onde estiver, muito contente.
Abraços,
Alfredo Prandato Jr."
guilhermedicin@hotmail.com
guilhermedicin@hotmail.com
Que história maravilhosa!
ResponderExcluirNão só usar a "caderneta" seria impossível nos dias de hoje. Viver uma aventura como essa também!
Maravilhosa narrativa. E as fotos não ficam atrás...
ResponderExcluirVejam a história real:? http://www.bandeiraquadriculada.com.br/Villafranca.htm
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